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Sobrecarga mental e emocional das mulheres, você também carrega este peso?

Atualizado: 20 de jan. de 2020

Num post anterior eu comecei a explicar o que é o Teto de Vidro e como ele atrapalha a vida profissional das mulheres. Hoje quero falar da sobrecarga mental e emocional que portamos por sermos as responsáveis pelo equilíbrio da casa e pelo bem-estar da família.

Essa sobrecarga é, na minha opinião, um dos maiores impedimentos internos para as nossas carreiras.


Mas o que seria essa sobrecarga mental e emocional? Imagine comigo, toda mulher tem um checklist mental para manter a casa em funcionamento. Temos também um olhar observador que vê a parede descascando, a lâmpada queimada e a manteiga acabando.

Temos uma percepção muito afinada que saca um comportamento fora do comum do seu filho assim que bate o olho nele. Procuramos manter uma postura cuidadosa quando o marido / companheiro chega do trabalho um pouco triste ou nervoso. A gente calcula até o tom de voz para perguntar o que houve, respeitar o momento difícil do companheiro e controla as crianças para não tomarem muito espaço na casa. O acúmulo de todas essas funções invisíveis são a causa da nossa sobrecarga mental e emocional.


Para acompanhar e gerir todas essas informações precisamos de muita disponibilidade mental, e estar disponível o tempo todo consome muita energia emocional. Parece que nunca podemos relaxar e silenciar a mente um pouquinho. Não nos permitimos ter muita margem de erro quando o assunto é cuidar da família. Nós somos um radar ambulante de coisas a fazer, urgências e itens a consertar. Precisamos estar em alerta 100% do tempo para garantir que o mínimo de comida, limpeza e afeto estejam em casa e isso é muito desgastante.


Toda máquina precisa desligar um pouco, a nossa máquina humana também. Eu sempre tenho a sensação de que a vida está a cada dia mais apertada e corrida, pois somente a casa com uma filha pequena já consome muito do meu tempo e da minha energia. Eu realmente não imagino como é ser mãe solo e faço uma reverência de respeito a todas elas, por encararem essa difícil missão sozinhas.


Sempre fico imaginando ou sugerindo alguma coisa que me ajude a aliviar essa danada carga mental. Comprar um lava-louças, fazer compras online… mas eu acho que o mais pesado mesmo é ter que ser a responsável por tudo e dar conta de tudo. Isso é mais pesado do que as tarefas em si.


Em casa até tentamos entrar em acordo para dividirmos as responsabilidades, mas na prática não é isso que acontece. Após um tempo da conversa sobre tarefas de casa eu acabo sendo completamente absorvida pelas responsabilidades de cuidar da família e da casa e meu marido fica completamente envolvido pelo seu trabalho e pela responsabilidade financeira. Fazemos o esforço consciente de dividir as responsabilidades, mas uma hora ou outra, sempre voltamos de forma sorrateira e inconsciente aos nossos modelos de comportamento iniciais – esposa / mãe que cuida, marido / pai que trabalha.


O resultado disso é que eu não tenho muita energia para ter a vida profissional que gostaria de ter e ele não tem quase nenhuma disponibilidade mental e física para cuidar da casa. Isso é muito desigual, tanto pra mim, quanto pra ele – eu detenho toda a responsabilidade da casa e da família e ele detém toda a responsabilidade financeira, pois por muito tempo a sua renda foi a maior e agora é a única que temos. Vamos combinar, isso é muito pesado para ambos.


Procurei buscar uma pista sobre a origem desse acordo tácito entre casais e lembrei dos modelos que eu tive ao meu redor, principalmente meu modelo maior, minha mãe.  Meu primeiro impulso é pensar – de onde tirei toda essa devoção pela família e pela casa? Em casa minha mãe sempre trabalhou fora e, como em muitas famílias, trouxe a estabilidade financeira pra casa. Meu pai teve uma vida profissional com altos e baixos e, em seu tempo livre, era o super pai que cuidava da gente, cozinhava, lavava roupa, fazia faxina, e nos finais de semana levava meu irmão e eu para passear e dava um descanso pra mamãe.


Essa dinâmica das tarefas era aparentemente bem dividida entre meus pais, apesar da minha mãe sempre ter sido o alicerce financeiro da família. Mas o que a gente não enxerga, porque é algo completamente imaterial e intangível, é a carga mental e emocional da responsabilidade da mulher em casa. Hoje eu entendo que a carga de responsabilidade da minha mãe sempre foi maior – mesmo com meu pai participando proativamente em casa. Foi maior porque ela englobava a casa, o bem-estar da família (sim as mães fazem isso também!) e o dinheiro.


Não é à toa que seu lado profissional ficou carente de atenção, minha mãe sempre exerceu cargos de responsabilidade em seu emprego público com muita dedicação e nunca exigiu a remuneração adequada para seu cargo. A minha conclusão é que ela não teve tempo e espaço na mente para parar e pensar em si mesma. Trabalhar e ser independente era uma questão sine qua non para as mulheres de sua geração, então ela nunca parou para questionar o preço dessa autonomia. Desta forma, funcionou no piloto automático a vida toda, absorvendo todas as responsabilidades que foram aparecendo sem se questionar.

Eu sou a terceira geração de mulheres da minha família que “trabalha fora”. Minha avó precisou bater o pé para estudar e trabalhar, minha mãe bateu o pé para ser independente financeiramente e agora, eu, estou chegando à conclusão, que a minha causa é o equilíbrio verdadeiro entre a vida profissional e pessoal. E para mim, o primeiro ponto é – vamos diminuir o que está excessivo em nossas vidas? Nem tanto ao Céu, nem tanto à Terra, quero ser uma mulher com uma carreira profissional que me traga satisfação e autonomia financeira, quero tempo com a minha família, que não são aqueles 15 minutos “de qualidade” e quero poder me sentir bem.


O meu primeiro alvo de ataque é esse excesso de carga mental das responsabilidades da casa e da família, que para mim, é o maior freio interno para poder desfrutar melhor da minha vida pessoal e profissional. Sempre ouvimos dizer que o trabalho de casa nunca termina, mas mesmo quando ele está sob controle, conseguimos a proeza de arrumar outras preocupações. Aquele modo multifunções mentais se ativa e lembramos exatamente antes de dormir que a vacina do filho está atrasada, que seu marido não fez check-up este ano ainda, que aquele amigo fez uma cirurgia e você não perguntou mais notícias e que hoje é aniversário daquela amiga querida, e você pre-ci-sa enviar uma mensagem, pois todos os anos ela sempre lembra do seu aniversário.


Ufa! É muita coisa para acontecer nos dez segundos que antecederam o seu momento de ir para a cama descansar. Você se coloca tanta pressão para resolver aquelas pendências que acaba se desviando da rota da cama e envia as mensagens, fala com o marido dos exames, coloca um lembrete no celular para a vacina e, finalmente, suspira profundamente, na tentativa de dormir em paz. A sua visão de paz antes de dormir era lendo um livro delicioso, na cama, de banho tomado e pijama limpinho. Que distância entre a expectativa e a realidade! Será que a vida precisa ser sempre essa correria e essa pressão?


Você se sentiu representada neste texto?


Vamos tentar transformar nossas vidas aos pouquinhos e buscar mais leveza mental no dia-a-dia?



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